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A loucura do Bike Tour

A Sportis já exportou o modelo de negócio para Espanha (Madrid, 2008) e agora para o Brasil (S. Paulo, 25 de Janeiro 2009).

Faltam apenas dois dias para que abram as inscrições com vista à participação no “Lisboa Bike Tour” e no “Porto Bike Tour” de 2009.

Na capital, a iniciativa realiza-se a 21 de Junho, enquanto na “invicta” tem lugar quatro semanas depois (a 19 de Julho). Estão disponíveis milhares de inscrições, ao preço unitário de 60 Euros, nas estações de Correios espalhadas pelo país (…).

Isto costuma ser mesmo uma loucura, com as inscrições a esgotarem em poucos dias.

Da nossa experiência pessoal, na edição de 2006, e por relatos de participantes em edições subsequentes, a experiência em si (“atravessar a ponte em bicicleta”) não vale os 60 € (é um caos, um mar de gente, e a paisagem é alcatrão e grades), e as bicicletas são de fraca qualidade, embora as de 2007 e 2008 tivessem melhor aspecto que as de 2006 (super-desconfortáveis, mal montadas, equipamento muito fraco). Talvez faça mais sentido participar no evento para obter uma bicicleta and some goodies “baratos”, mas não sei quão mais barato fica comparando com simplesmente ir comprar algo semelhante ao hipermercado (podemos escolher, tem garantia, e dá menos trabalho).

Não sei se o evento contribui para as pessoas usarem mais a bicicleta (um dos objectivos do evento). Embora veja algumas por aí, de vez em quando, não há sinal de vida do resto das cerca de 23.500 bicicletas distribuídas nas 3 edições realizadas em Lisboa (2006: 4 mil, 2007: 12 mil, 2008: 7500). Só em Lisboa, sem contar com as do Porto. Acho que isto diz alguma coisa, e seria interessante fazer um track aos participantes e tentar saber o porquê, para tentar melhorar o sucesso da iniciativa, e evitar que esta se traduza em simplesmente mais junk com pedais a apodrecer em garagens e varandas, ou lixeiras. Porque será que as bicicletas não são usadas depois dos eventos? Tem a ver com as bicicletas ou tem a ver com as pessoas? O que acontece às bicicletas não usadas? As pessoas passam a usar mais a bicicleta, mas outra que não a da Sportis? Há aqui um canal de comunicação com o público que poderia ser usado pela Sportis e seus parceiros para saber mais dos hábitos das pessoas e tentar descobrir o que lhes faria mais falta para continuarem os objectivos da iniciativa no pós-evento.

Para os fãs deste evento, participem e continuem a usar a bicicleta depois. Não a deixem esquecida em casa. Emprestem-na a amigos, ofereçam-na a alguém. Mas não a deixem deteriorar-se por falta de uso e não a ponham no lixo! Em última análise, doem-na a uma Cicloficina! 😉

Por Ana Pereira

Instrutora de condução, formadora em segurança rodoviária, e consultora em mobilidade & transporte em bicicleta. Bicycle Mayor of Lisbon 2019-2020.

13 comentários a “A loucura do Bike Tour”

http://biketour.sapo.pt/sugestoes.php?

Gostaria de perceber o espírito deste evento!
Num primeiro exercício de reflexão eu perceberia as vantagens de uma prova anual em BTT para promover o exercício o convívio a competição.

Se eu estivesse certo e se assim fosse, não haveria a condicionante de não utilização de bicicletas próprias, se assim fosse alguém que pretendesse participar oficialmente não estaria pela lógica obrigado, ao desembolso de 60 euros para inscrição, através de uma mais acessível e modesta quota, logo qualquer ciclista poderia estar presente e inscrito na tal Porto Bike Tour, utilizando o seu equipamento, participando desse jeito num evento em que não se esperam medalhas nem troféus, porem a organização obriga a utilização de equipamento comprado á própria organização no acto da inscrição, e se o mesmo individuo estiver presente em mais que um encontro começa a coleccionar incompreensivelmente um conjunto de bicicletas, ou de pseudo sucatas o que não faz sentido e leva a pressupor outros objectivos que não aqueles que imediatamente nos surgem á cabeça ouvindo falar e badalar o tal “ Porto Bike Tour !?…”

Será que estou a ver mal a questão?!

Também participei na edição de 2008, mas não correspondeu às minhas expectativas; meia-ponte, meio-passeio, meia qualidade, enfim serviu-se uma meia-dose.

Espero que os organizadores tenham a percepção dos comentários que circulam na net.

Boa continuação e bom ano…

@Catarina:

Pelo que vejo da BikeTour eles promovem o uso da bicicleta como lazer e não como meio de transporte dirário.

Exacto, mas eu nem estava a falar de ver mais bicicletas por aí em modo utilitário (posso sonhar, mas sou realista). Falava mesmo de as ver em modo lazer, fim-de-semana style. 🙂 Ou seja, não é pelo LBT que as pessoas andam a fazer mais exercício e a passar mais tempo ao ar livre, pelo menos de bicicleta, ou na deles…

@Carneiro: Sim, deve ser um negócio rentável, sem dúvida. Não tenho nada contra as pessoas ganharem dinheiro, só acho que isso implica uma responsabilidade acrescida face ao serviço que prestamos ou ao produto que vendemos, relativamente ao cliente e à sociedade em geral, e quanto ao modo como aplicamos esse mesmo dinheiro. E neste caso parece-me que há pormenores que permanecem por melhorar ou corrigir mas a expansão continua a bom ritmo independentemente disso…

Obrigada, e bom ano para si também. 🙂

Depois de ter apoiado como voluntário a primeira realização, apercebi-me que aquilo visa apenas a negociata de bicicletas de péssima qualidade, instrumentalizando o natural desejo das pessoas de praticar um pouco de ciclismo num percurso com aptidão paisagística.

Desde então que tenho denunciado a óbvia(para mim) mera negociata.

Agrada-me perceber que há mais quem já tenha percebido.

No reino das bicicletas há quem ganhe dinheiro com as bicicletas abrindo um negócio legítimo e pagando impostos.

E depois há uns quantos que, com maior ou menor dimensão, vivem das bicicletas mediante esquemas mais ou menos complexos baseados numa aparência da “defesa da causa pública das bicicletas” mas onde apenas visam sacar.

Votos de Bom Ano aqui e na loja.

Eu participei na BikeTour2007.

Fui para ter uma bicicleta pois queria andar de bicicleta em Lisboa e não gastar muito dinheiro.
Conheço um casal amigo que atravessou a ponte a seguir à BikeTour com as próprias bicicletas, julgo que falaram com a organização.

Depois de ter a bicicleta andei com ela por Lx e sobreviveu a uma viagem de verão pelo alentejo. Ou seja, serviu para o desenrasca, para começar a conhecer a cidade em duas rodas. Pouco depois da viagem comprei uma bicicleta que me desse mais gozo pedalar na cidade e não custasse tanto a carregá-la.

O que aconteceu à bicla? Dei a um amigo para que a irmã dele pudesse começar a pedalar para a escola.

Pelo que vejo da BikeTour eles promovem o uso da bicicleta como lazer e não como meio de transporte dirário. Na ultima bikeTour a Isabel Angelino que estava a comentar na RTP1 dizia que em Aveiro já se anda de bicicleta mas que em Lisboa era impossível por causa das colinas a não ser que tivessemos uma bicicleta eléctrica! Ora com comentários destes vamos longe vamos…
Do que me lembro da Bike Tour em que participei. Lembro-me de ter ido para casa de bicicleta e o meu vizinho de carro com a bicla lá dentro de notar que eu vivo a 7 minutos de bicla do Oriente ao lado de uma estação de metro e a subida de bicla não é pior do que a da ponte. Lembro-me de querer pedalar no tabuleiro mas as pessoas não atinavam com as mudanças e iam devagar devagarinho, eu incluída porque já não andava de bicla há muitos anos quase provocando choques em cadeia. Claro que agora não iria acontecer o mesmo 😛

Boas pedaladas.
Catarina

Isso é o que acontece na mini-maratona. O precurso deve ser o mesmo. Arranca-se ali do meio da ponte, sobe-se ate ao fim, vira-se à dta e depois vai-se até ao PdN. São mais ou menos 9km. Mas ouvi dizer algures que a Bike Tour são 14km, por isso deve começar um pouco mais abaixo.

Outro passeio interessante que tb passa na ponte e que ocorre no mesmo dia é o Tejo Ciclável, em que se parte do PdN, cruza-se o Tejo em Vila Franca, vai-se a Alcochete e depois cruza-se novamente o Tejo na PVG e acaba-se onde se começou. São 80km! Para o ano vou tentar fazer esse.

Cada um leva a sua bicla, com mais garantias que a mesma se aguente até ao fim. A inscrição é mais barata, e segundo relatos que li no ForumBtt o passeio é muito agradável.

Os relatos do Bike Tour, feito por quem entende e gosta de bicicletas não são os mais animadores, mas tenho mesmo de ir satisfazer a minha curiosidade, nem que seja para depois poder criticar por experiência própria.

Penso que provavelmente o maior atractivo que leva as pessoas a participar na prova é a possibilidade de passar a ponte de Vasco da Gama, que nos restantes 364 dias do ano está inacessível.

Olá Rui. Exacto, foi o que me levou a participar em 2006, mas apanhei uma desilusão enorme porque os autocarros deixam-nos algures no meio da ponte e acabamos por só desfrutas da margem norte do rio, e toda a zona de acesso à ponte e depois ao PdN é só alcatrão e betão, ou campos baldios. Não tem beleza nenhuma. A zona provavelmente mais agradável talvez seja a da margem sul, que no evento não chegamos a ver… 🙁

Penso que provavelmente o maior atractivo que leva as pessoas a participar na prova é a possibilidade de passar a ponte de Vasco da Gama, que nos restantes 364 dias do ano está inacessível. No fundo não é muito diferente do que se passa com as mini-maratonas que ocorrem todos os anos na Vasco da Gama e 25 de Abril. Juntam-se multidões de 30 mil pessoas, mas depois estas pessoas não vão fazer as restantes provas de atletismo que ocorrem no resto do ano. Contra mim falo, pq todos os anos participo nestas provas e depois não corro mais. Com a Bike tour não é muito diferente, só os brindes são mais dispendiosos.

Este ano vou fazer a minha estreia no Bike tour, e agrada-me ficar com uma bicicleta extra (desde que a mesma resista ao passeio) para fazer os meus passeios de fim de semana na zona de sesimbra, assim não tenho que andar com uma bicicleta para um lado e para o outro. Mas o que me motiva mais para o Bike tour é mesmo o passeio na ponte.

No resto do ano vou participando em todas as actividades em que consigo. Faço todos os anos a Gold Marathon Carlos Lopes em bicicleta, participo nas actividades da semana da mobilidade e espero este mês começar a ir de bicla para o trabalho. Mas a maior parte das pessoas não têm esta perspectiva. Com muita pena minha e de todos os interessados no Cicloactivismo.

@Hugo: acho que a opção pelas bicicletas deles também serve um propósito não despiciendo: simplificar a operação do evento. Assim, as bicicletas vêm todas do mesmo sítio, e já lá estão na ponte. Depois é só levar para lá as pessoas. Se cada um levasse a sua bicicleta, ou teria que ir a pedalar desde a margem norte até algures na ponte (duplicaria ou triplicaria a duração do evento), ou teriam que levar pessoas e bicicletas (seria um caos e demoraria eternidades), ou teriam que começar mesmo na outra margem (que era o que eu pensava que seria quando participei em 2006), o que levantaria a questão: como é que os participantes vão para lá com as bicicletas? De TP? Quais as opções? São viáveis? De carro? Mas depois teriam que voltar para lá a ir buscar o carro, e como, com a bicicleta e tudo? De TP?…

@RedTuxer: pois, é isso que temo, e que desconfio ser o destino da maioria daquelas bicicletas. Por isso digo que a Sportis poderia aproveitar para, em parceria com o IDP, p.e., estudar melhor as motivações das pessoas e ver o que pode ser feito para melhorar o impacto do evento no pós-evento.

Tenho encontrado imensas bicicletas “Bike Tours” … nas garagens dos muitos edificios que conheço. Muitas delas ainda tem as placas dos patrocionadores, ou seja, tal e qual como vieram da ponte. Por outras palavras, inscrevem-se, pagam os 60 aérios, vão a voltinha e depois metem a bika na garagem a apodrecer….

RedTuxer

Uma sugestão para a Sportis: criar uma inscrição a metade do preço (30€) para todos aqueles que participaram em edições anteriores e levem as respectivas bicicletas.

Lembro-me que há dois anos atrás fui distribuir folhetos sobre a Massa Crítica aos participantes do Bike Tour, quando os mesmos chegavam na Gare do Oriente. Recordo-me da antipatia de muitas pessoas, tendo eu chegado a duvidar e perguntar directamente a alguns se gostavam de andar de bicicleta.

Olá Sérgio,

Sim, é capaz de ser o convívio que puxa as pessoas, porque as alternativas costumam ser passeios cicloturísticos roadie way, ou passeios de BTT, e este é manifestamente um passeio para newbies.

Bom ano novo! 🙂

Ora aí está algo que eu não percebo.. o que acontecem ás centenas de bicicletas distribuídas (ou antes, vendidas) neste evento?

É que no Porto também é muito raro ver alguma. Suponho que ficam no fundo da garagem a apodrecer e/ou vão para o lixo qdo o espaço fizer falta.

Também será de supor que 98% dos participantes vão pelo convívio e ilusão de um bom negócio (o equipamento oferecido), e são também o tipo de pessoas que acham ser impossível utilizar a bicicleta no dia a dia.
Ainda que seja uma iniciativa mais saudável do que o seria um “Car Tour”, os resultados práticos quanto ao incentivo da utilização da bicla, são quase nulos.
Talvez se o percurso fosse mais terra a terra como se pratica nas bicicletadas (em vez de ser a percorrer pontes que os restantes dias do ano estão interditas a velocípedes) os resultados poderiam ser melhores… não sei!
Abraço e bom 2009!

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