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Há greve dos comboios

Há greve dos comboios esta semana. Amanhã, dia 8, e depois dia 11 não há mesmo nada (ou quase nada) para ninguém. Mas dia 7, 9, 10 e 12 vão ver atrasos, supressões e outras perturbações na circulação dos comboios da CP. E não serão facultados transportes alternativos… Dado que a Carris (e a STCP, no Porto), o Metro e a Soflusa & Transtejo também vão fazer greve, a malta ou pega no carro, ou pede boleia num carpooling (e perde mais um pouco de saúde mental nos congestionamentos de trânsito), ou fica em casa e faz gazeta ou… vai de bicicleta. 🙂

É hora de pegar na bicla dos passeios de férias ou de fim-de-semana e descobrir um novo meio de transporte. Mais fiável, mais polivalente, mais flexível, mais económico, mais saudável, mais fixe.

A bicicleta joga lindamente com os transportes públicos quando é preciso ou quando apetece. E quando não há transportes públicos, como esta semana, a bicicleta oferece a mesma fiabilidade que o automóvel particular: está lá quando precisamos dela, para nos levar onde precisamos de ir, quando precisamos de ir. Com a pequena diferença de sabermos que chegaremos mesmo lá a horas, haja ou não congestionamento, haja ou não “lugar para estacionar”.

Esta semana haverá mais carros na rua, porque essa é a única alternativa ao transporte público que muitas pessoas conhecem. O trânsito será ainda mais infernal do que o costume. As pessoas sofrerão ainda mais com a poluição dos carros adicionais, e do congestionamento adicional (andar na rua será uma experiência ainda mais desagradável que o normal. Encontrar lugar para estacionar será uma dor de cabeça ainda pior (quando não uma missão virtualmente impossível). Os serviços de entregas sofrerão perdas de produtividade que passarão para os clientes (lojas, cafés, restaurantes, etc).

Mas onde é que eu me fui meter...

As pessoas perderão ainda mais tempo a chegar ao trabalho, e depois a regressar a casa – chegam a casa moídas, stressadas e com o tempo já esgotado para actividades pessoais: cuidar de si mesmas, estar com os filhos, namorar, descontrair. Mas esse é o cenário invitável numa sociedade que dá rédea solta ao uso do automóvel particular. É esse o inferno auto-destrutivo que toma conta de tudo numa cidade onde o transporte público, o andar a pé e o andar de bicicleta são opções de mobilidade tornadas menos atractivas (ou viáveis) que o ultra-subsidiado e ultra-favorecido automóvel.

Quer independência? Flexibilidade? Mais dinheiro para o que realmente interessa? Invista numa bicicleta e use-a mais vezes. Use-a com o comboio, com o Metro, ou com os autocarros, quando lhe der jeito, e use-a sem mais nada quando a bicicleta chega, ou quando os transportes públicos não chegam. Use-a com o carro, quando faz sentido.

O melhor investimento, nomeadamente para quem mora mais longe do trabalho, é numa [boa] bicicleta com assistência eléctrica (pedelec). Pode fazer Oeiras-Lisboa em menos de 45-60 min, haja ou não congestionamento na estrada. Se precisar ou lhe apetecer, pode pô-la no comboio para diminuir o tempo de viagem (não faz isto com um carro ou com uma mota…).

Pedelecs no comboio

Ou pode ir a pedalar e a curtir – é um tempo seu, para pensar na vida ou para não pensar em nada, para se exercitar de forma ligeira, para se sentir vivo, e livre. Isso ou uma bicicleta dobrável, para não ter restrições no uso de qualquer transporte público (dobra-se e passa a ser bagagem).

Birdy na zona de bagagem do Intercidades No comboio

Até há bicicletas dobráveis com assistência eléctrica, para quem quer um pouco dos dois mundos. 🙂

“Crise” é o mesmo que “oportunidade”. Aproveite estas greves para descobrir um novo estilo de vida, mais compensador. Pegue na bicicleta que tem lá para casa. Pode ser um chaço, mas um pouco de ar nos pneus e já rola. À medida que acumular viagens em cima dela poderá ir melhorando a coisa lentamente. Uma revisão para corrigir umas falhas na performance, umas luzes, uns pára-lamas, talvez um cesto ou um alforge, uma protecção para a corrente… Mais tarde, se necessário, talvez um guiador diferente, mais confortável para o uso na cidade. Eventualmente uma bicicleta nova, diferente, melhor, apenas se aquela não lhe servir da melhor forma, e não puder ser cirurgicamente transformada para o fazer. Pequenos passinhos, à medida que testa as águas.

Gastar dinheiro num carro é uma despesa. Gastar dinheiro numa bicicleta é um investimento.

Estamos cá para o acompanhar nesta transição, não está sozinho! 🙂

Por Ana Pereira

Instrutora de condução, formadora em segurança rodoviária, e consultora em mobilidade & transporte em bicicleta. Bicycle Mayor of Lisbon 2019-2020.

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