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Porque é que não se pode usar as pontes sobre o Tejo a pé ou de bicicleta?

Preço para usar a ponte 25 de Abril para atravessar o rio Tejo, para quem anda de carro (fonte):

  • Norte-Sul: gratuito
  • Sul-Norte: 1.60 € a classe 1

Preço para usar a ponte Vasco da Gama para atravessar o rio Tejo, para quem anda de carro (fonte):

  • Norte-Sul: gratuito
  • Sul-Norte: 2.60 € a classe 1

A Transtejo tem alguns ferries a fazer a ligação Cacilhas-Cais do Sodré que transportam automóveis. O preço é o do bilhete do passageiro + bilhete do veículo: 1.20 € + 4.70 € = 5.90 € (a ponte é mais barata).

Quem anda a pé ou de bicicleta não tem forma de atravessar o rio Tejo de forma livre e autónoma. Está sujeito à disponibilidade e condições dos transportes públicos (horários, greves, lotação, etc).

Para atravessar o rio Tejo, quem se desloca a pé ou de bicicleta tem que pagar desde 1.15 € (para Porto-Brandão-Trafaria) a 2.70 € (para o Montijo), se for de barco – a bicicleta viaja gratuitamente, mas está limitada à lotação definida e não é possível reservar previamente (fonte), ou 1.80 €, se for de comboio – a bicicleta viaja gratuitamente (fonte), ou 1.35 €-1.80 € (pelo menos), se for de autocarro (fonte) – a bicicleta só viaja se for um modelo dobrável!

Resumindo, para ir à outra margem e voltar:

    • de carro pago 1.60 €
    • a pé ou de bicicleta sou forçada a usar e depender das condições, rotas e horários do transporte público e pago de 2.30 € a 5.40 €

Sei que noutros países (embora não tenha fontes para indicar agora) algumas pontes incluem acessos independentes para peões e ciclistas. Ou quando esses não existam, há transportes públicos a fazer a ligação gratuitamente. De outra forma, há aqui uma discriminação negativa do contribuinte que opta por modos activos (dado que as pontes não são financiadas apenas pelas portagens).

Resumindo: quando terão os utilizadores de bicicleta força política suficiente para forçar as autoridades portuguesas a abrir as pontes sobre o Tejo ao tráfego não-motorizado?

A ponte 25 de Abril começou com 2 vias em cada sentido, e agora está com 3.

ponte-teste-carga

Se revertermos ao modelo original, sobra espaço para criar um canal para caminhantes e ciclistas (e é sempre um canal livre para acesso de veículos de emergência…). É só querer:

ponte com canal para modos activos

E se alguém se lembrar de dizer que não pode ser porque o trânsito automóvel já é muito elevado e congestionado, eu digo: exactamente por isso é que deve ser reduzida a oferta. Isso vai ajudar a tornar mais competitivas as alternativas: transportes públicos e modos activos, e a reduzir a entrada de automóveis na cidade de Lisboa, que já sofre o suficiente para os acomodar a todos, seja a circular seja a estacionar…

Ainda não se estão a discutir privilégios para quem opta por modos mais sustentáveis, sem as externalidades negativas associadas aos modos motorizados, estamos apenas a falar, para já, de equidade.

Por Ana Pereira

Instrutora de condução, formadora em segurança rodoviária, e consultora em mobilidade & transporte em bicicleta. Bicycle Mayor of Lisbon 2019-2020.

10 comentários a “Porque é que não se pode usar as pontes sobre o Tejo a pé ou de bicicleta?”

Estamos em 2022 e estou de acordo com esta ideia. A ponte de brooklyn podia servir de exemplo. O problema aqui seria como acessar a lisboa. Pr elevador? Mas de facto esta a solução, qual o valor a pagar pelo mesmo. Se fosse, uma ciclovia/acesso pedonal estenderia-se até onde? Ia até Alcântara ou outro sitio?

Estou mudando pra Lisboa e não gostei de saber que a ponte 25 de abril não possui acessos para bicicleta e peões. Aqui em Florianópolis, apesar da ponte ser menor, possuímos uma passarela por baixo da ponte para peões e outra para ciclistas. Pontes pedro ivo campos e colombo salles. Agora até aparecem no google maps modo ciclista

Mas o objectivo da ponte, ao contrário do que parece, não serve para a Lusoponte gerar receitas. Foi feita para servir de ligação entre as duas margens e para as pessoas.

Quem vive no estrangeiro ainda fica mais espantado com a falta de consciência acerca da bicicleta como meio não só de lazer mas principalmente de locomoção /”commuting”, Aqui em Londres.. .bem, é melhor ver o site e ficar espantado com as iniciativas que REALMENTE funcionam e tanto vontade política como consciência da parte dos habitantes. E em relação ao dinheiro necessário investir, o Barclays é mecenas das bicicletas de aluguer… dá até para ver no site qual a disponibilidade ONLINE das baías de estacionamento na cidade. Se precisares de mais informação, dispõe! Continuação de bom trabalho em prol das duas rodas!

http://www.tfl.gov.uk/roadusers/cycling/11598.aspx

Muito bem pensado.
Lembrei-me que no Porto, a Ponte da Arrábida, para além de não ter portagens, dá a possibilidade de pedestres e ciclistas a atravessarem, no entanto, os acessos são tão maus (rails, falta de passeios e ciclovias, acessos a e de autoestrada, falta de iluminação, etc.) que quase ninguém o faz. É pena!

Boas…

Sem dúvida que é uma excelente questão, e tenho a certeza que uma das coisas que mais me daria prazer era poder visitar a malta amiga de Almada de bicicleta, passando a 25 de Abril numa manhã de verão com mochila às costas para ir para a praia..

Aliás já fiz várias vezes a mini meia maratona de lisboa da 25 de Abril ( à alguns anos ), e nada melhor do que fazer a 25 de Abril a pé.. que é algo realmente fantástico..

Eu diria que se calhar não é tanto uma questão de força política ( mas eu sou ingénuo ), e acredito que seja mais uma questão de dinheiros públicos, além disso não me parece que seja viável cortar uma faixa ( de cada lado ) da 25 de Abril para permitir a passagem de peões e bicicletas. Iria tornar o trânsito ainda mais insuportável.. e tenho quase a certeza que ao abrir a faixa não iria haver assim uma diminuição tão grande do tráfego, basta ver com a questão do comboio, tirou algum? Claro que tirou, mas foi assim tanto? Não tenho números, mas duvido muito que tenha sido algo extraordinário..

E Rosa, permita-me que discorde de si, a senhora ( pode ser? ) vê como um incentivo ao uso do automóvel, eu vejo como uma vantagem para as famílias e empresas que todos os dias têm que fazer duas ou mais viagens ( e não têm alternativa ) sobre a 25 de Abril, e assim sempre conseguem poupar algum dinheiro, visto que o preço da portagem está altíssimo.

Cumprimentos e bom post.. gostaria mesmo que fosse criado um projecto para trazer a travessia do peão e da bicicleta à 25 de Abril, e porque não também à Vasco da Gama.

PS: Moro em Queluz, uso todos os dias a CP para me deslocar a mim e à minha “bina” que me acompanha praticamente todos os dias para Lisboa para o trabalho. Mas tenho que dizer que levo montes de vezes o carro para Lisboa também, mas o meio de locomoção preferida é mesmo a bicicleta..

Sérgio, na verdade, poucos meses antes de ser inaugurado o comboio da ponte, foi adicionada mais uma via de trânsito à ponte, em directa competição…

Não se trata de tirar vias aos carros, embora isso seja um objectivo válido em si mesmo, pois o excesso de automóveis causa problemas sérios às cidades e quem lá vive e trabalha, trata-se de dar pelo menos 1 via aos outros, que também são filhos de deus (ou pelo menos, também pagam impostos).

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