O Antoine estava à procura de uma solução para transportar as suas duas filhas, de 4 anos e 6 meses, para a escola / creche. Até agora transportava a mais velha numa cadeira, mas agora que a mais nova ia começar a frequentar a creche, precisava de uma solução que desse para as duas. Tinha lido que a única solução seria um atrelado, visto que as cadeiras não se adequam a bebés tão pequenos. Também queria uma solução prática de usar mesmo nos dias chuvosos de Inverno.
A escolha recaíu sobre um atrelado da Thule, o Chariot Cross 2. Além da funcionalidade e design de todos os elementos do atrelado serem de topo, para tornar o dia-a-dia o mais simples possível, tem também suspensão, o que o torna mais seguro e confortável para os passageiros, mesmo em cidades como Lisboa onde a qualidade do piso nem sempre é a melhor.
Quem se desloca de bicicleta pela cidade tem que lidar com alguns desafios, como encontrar estacionamento adequado e prático junto dos seus destinos.
Um dos maiores desafios de qualquer negócio, principalmente dos pequenos, é primeiro fazer-se conhecer pelo seu público alvo, e depois atraí-lo ao seu espaço/serviço, e finalmente fidelizá-lo.
A appportuguesa Biklio, cuja tagline é bike with benefits – you benefit the community, the community benefits you (“bicicleta com benefícios – tu beneficias a comunidade, a comunidade beneficia-te a ti”), visa abordar estes dois problemas e aproximar a realidade portuguesa do comércio de rua com a realidade dinamarquesa, por exemplo.
Como funciona a app Biklio
Está a ser criada uma comunidade Biklio de espaços comerciais bike-friendly em que, a troco de visibilidade e fidelização de clientes, quem se desloca de bicicleta até eles é recompensado com descontos e outras ofertas, além de facilidade de estacionamento público ou privado em muitos casos. Este vídeo ilustra a ideia da Biklio:
A app instalada no smartphone detecta se fomos de bicicleta e no final de cada viagem (de pelo menos 500 metros!) ficamos elegíveis para reclamar os nossos benefícios juntos dos parceiros aderentes. Assim, somos incentivados a optar por um espaço comercial da rede face a um equivalente não pertencente à rede. Por outro lado, os espaços comerciais ganham visibilidade juntos dos utilizadores de bicicleta aderentes à app Biklio e incentivam-nos ao oferecer-lhes vantagens exclusivas.
Além disso, os dados (anonimizados) gerados relativamente aos padrões de uso da bicicleta por parte dos aderentes (tal como no caso das bicicletas Gira do bikesharing em Lisboa), poderão melhor informar decisões de políticas públicas de mobilidade em bicicleta (quais as rotas mais usadas por quem anda de bicicleta, por exemplo, etc, muito mais úteis do que os dados de contadores fixos).
No meu dia-a-dia eu dou preferência a um sítio onde tenha estacionamento seguro e prático à porta, ou onde possa mesmo entrar com a bicicleta no estabelecimento, principalmente para coisas rápidas como ir ao banco, à Wink, ao supermercado, à farmácia, aos CTT, etc. E entre duas ofertas equivalentes, preferiria votar com a carteira em negócios que discriminassem positivamente quem vai de bicicleta [nomeadamente face a quem vai de carro, pois é isso que interessa], claro, não só por mim, mas pela minha cidade e por todas as outras pessoas que nela vivem.
As pessoas e o futuro da Biklio
A propósito de pessoas, pelo menos duas (as que nós conhecemos) das que estão por trás da app Biklio, o João Bernardino e o João Barreto, são utilizadores de bicicleta como meio de transporte quotidiano já de longa data, e cicloactivistas muito dedicados.
Se eles conseguirem desenvolver a aplicação além do seu tempo de vida no âmbito do projecto europeu TRACEem que foi criada, poderão entrar no campo do empreendedorismo social, usando uma actividade comercial para atingir um fim social. Tal como nós na Cenas a Pedal! 🙂 Desejamos-lhes toda a sorte do mundo para levarem a Biklio tão longe quanto possível!
Descarrega a app Biklio, vai mais vezes de bicicleta aqui ou ali, dá preferência a quem beneficia quem o faz, e usufrui das vantagens que te oferecem (além de contribuíres para a pool de dados do uso da bicicleta na tua cidade).
Vais ter a oportunidade de ouvir falar sobre o potencial das apps para o crescimento do uso da bicicleta – entre os oradores estão pessoas de outras apps, como a Horizontal Cities e a vonCrank (uma app britânica para chamar um Bicycle Repair Man lá do sítio!).
No início deste mês escrevi sobre as 6 razões para aderir ao bikesharing em Lisboa. Apesar de já se verem docas nas outras zonas a cobrir por este sistema de 3ª geração, além do Parque das Nações, onde o serviço já está em funcionamento, as bicicletas ainda não apareceram. Agora entrou em funcionamento um bikesharing sem docas, em Cascais.
O bikesharing sem docas chegou a Portugal pelas mãos da chinesa ofo
Estes sistemas são uma espécie de full circle, pois voltamos aos primódios dos sistemas de bikesharing, surgidos na Holanda nos anos 60, em que as bicicletas eram deixadas “por aí” para quem as quisesse usar, pegando numa onde a encontrasse e deixando-a no final onde lhe conviesse. Nessa primeira encarnação rapidamente os furtos e o vandalismo acabaram com a ideia, hoje em dia a tecnologia ajuda a minimizar isso, e torna mais fácil localizar bicicletas livres. Portugal não chegou a ter estes sistemas de 1ª geração, mas teve um de 2ª geração, as BUGAs.
Aparentemente o bikesharing sem docas daofo será integrado na plataforma MOBICascais. Ainda não vieram para Lisboa porque consideram que só quando tiverem bicicletas eléctricas (no final de 2017) é que estarão preparados para tal.
Em Cascais, a Ofo está disponível com 50 bicicletas sem assistência elétrica e sem caixa de velocidades. Para utilizar o serviço, é necessário descarregar a app para iOS e Android. Ao abrir a aplicação, é apresentado um mapa da vila com as bicicletas disponíveis (estas estão equipadas com um sistema de tracking por GPS). Depois de carregar no botão para desbloquear, o utilizador tem de introduzir o número da bicicleta ou então ler o código QR exibido por cima da roda traseira. A seguir, a aplicação dá o número para desbloquear o cadeado da bicicleta. A partir daí, pode utilizá-la e deixá-la onde quiser. O pagamento é feito através do cartão de crédito.
Ou seja, é preciso um smartphone (com bateria) e wifi ou dados móveis, e não dá para pensar em grandes subidas com isto (não têm mudanças!).
Por outro lado, há muito maior liberdade no sítio onde a estacionamos e devolvemos ao sistema (e, com sorte e escala/dimensão suficiente, maior facilidade em encontrar uma bicicleta disponível ao pé de nós quando a queremos).
Custa 1 € por cada meia-hora (e, dizem eles, vai haver um sistema de créditos). A Shifter diz que «se quiseres uma viagem grátis, podes utilizar o código Y03CfF».
A minha esperança é que, a haver problemas de abuso do espaço público por cá isso sirva para despoletar uma conversa colectiva sobre a muito pior, mais perniciosa e omnipresente ocupação – legal e ilegal – do espaço público por automóveis privados…
6 razões para aderir ao Gira, o bikesharing em Lisboa
1 – Podes facilmente experimentar como é usar a bicicleta no centro de Lisboa.
Estudar a oferta do mercado, comprar a bicicleta e os cadeados, ter sítio onde a guardar em segurança em casa (e no trabalho/escola, etc), levá-la regularmente à oficina para a manter a rolar de forma segura e eficiente, acautelar a logística de a conjugar com o transporte público ou mesmo o carro, preocupares-te com a eventualidade de ta roubarem… Nopes, esquece isso para já.
Subscrever o passe anual ou mensal, levantar uma bicicleta numa estação próxima, ir aonde tens que ir, entregá-la noutra estação perto do destino e ir à tua vida sem voltares a pensar nela. Mais tarde podes voltar a usar o sistema, pegando numa bicicleta numa outra estação qualquer e entregando-a ainda numa outra, consoante o que dê jeito.
Se nem te apetecer voltar de bicicleta, não há crise, usas outro modo qualquer. Afinal, não é como se tivesses levado a tua própria bicicleta.
Não sabes andar de bicicleta? Não é problema, nós temos aulas de bicicleta para principiantes em Lisboa e Oeiras, bem como Almada e Cascais. E não, não é a mesma coisa que teres “aquele amigo que anda de bicicleta” a tentar ensinar-te. 🙂 Inscreve-te e em breve estarás a usar as GIRA da EMEL para praticar e passear!
2 – Tens à disposição 1410 bicicletas, espalhadas por 140 estações.
As eléctricas usam um motor dianteiro, o que te dá tracção às duas rodas (mas atenção especial ao circular por pisos escorregadios!).
4 – Aderir ao bikesharing em Lisboa custa só 25 € por ano, e a primeira meia-hora de cada viagem é grátis (até final de 2017).
Dentro de Lisboa poucas viagens de bicicleta levam mais de 60 min… Se precisares de mais que os primeiros 30 min gratuitos, mesmo assim só pagas 1 € pela segunda meia-hora.
Se já fores utilizador registado na app ePark (para pagamento de estacionamento tarifado da EMEL) e te registares depois no GIRA, podes partilhar o saldo entre as duas aplicações.
5 – Tens alguns benefícios extra: seguros, e isenção do uso de capacete nas pedelec.
Com a subscrição do serviço de bikesharing em Lisboa vem também a cobertura por um seguro de acidentes pessoais e de responsabilidade civil. Este seguro não é, de todo, obrigatório para condutores de velocípedes, mas é sempre um bónus, principalmente se tens pouca formação e experiência a andar de bicicleta na cidade.
Adicionalmente, a EMEL alega que as pedelec não obrigam ao uso de capacete, isentando os utilizadores deste ónus logístico que inviabilizaria o sistema. Isto não é verdade (em 2013 o Código da Estrada mudou para melhor mas este arcaísmo manteve-se). Mas assim reduzes a probabilidade (já de si baixíssima) de seres multado por não usares capacete ao conduzir uma pedelec [se for essa a tua preferência], ou de veres ser agravada a tua culpa nas consequências de uma colisão – podes sempre mandar a responsabilidade para cima da EMEL. 😉
Quanto a isto dos seguros, e da culpa, já deves saber que prevenir é sempre melhor que remediar. Mais vale uma conta para pagar do que uma estadia no hospital. Deves aproveitar a poupança conseguida com o uso deste sistema para investires mas é em ti próprio/a e nas tuas skills. E não, não é por “andares de bicicleta na cidade há 20 anos” que já não tens mais nada a aprender. 😉
6 – Ao usares o bikesharing em Lisboa estás a contribuir para o know-how nacional.
Contribuis para uma pool de dados de utilização (horários das viagens, duração das mesmas, rotas escolhidas, etc). Estes dados poderão vir a ser usados para estudos académicos e/ou para afinar políticas públicas de mobilidade.
Entretanto, claro que o sistema de bikesharing em Lisboa não vai cobrir todas as necessidades nem todos os públicos.
Primeiro, o sistema está interdito a menores de 18 anos. Depois, o uso do sistema depende da utilização de uma app, o que exclui quem não tiver um smartphone [com bateria, mas podes carregá-lo por USB na própria bicicleta, com o andamento].
Além disso, o transporte de bagagem está limitado ao pequeno cesto/plataforma dianteira. A eventual mochila complementar não é a melhor das ideias pois compromete a nossa bolha de segurança e pode agravar as consequências de uma queda, colisão ou, se estiver pesada, até de uma travagem brusca.
O transporte de passageiros (crianças, cães), também não é possível nas GIRA.
O único ajuste que as GIRA permitem é a altura do selim. É “one size fits all” – mas sem stress, para viagens curtinhas a ergonomia e o conforto têm menos peso.
Também não as podemos levar nos transportes públicos para cobrir maiores distâncias. E as estações estão longe de cobrir toda a cidade. Finalmente, entre a meia-noite e as 7h, uma altura em que a oferta de transporte público é reduzida, o sistema fica indisponível.
As nossas escolhas de mobilidade dependem de como o sítio em que vivemos está construído e organizado. As políticas de transportes, de habitação, económicas e de urbanismo trabalham em conjunto (ou umas contra as outras) para nos oferecer a experiência de de circulação e usufruto da cidade a que nos sujeitamos hoje, e a de que podemos desfrutar (ou sofrer) amanhã. Como está a bicicleta nas eleições autárquicas de 2017?
Amanhã, dia 1 de Outubro, podemos contribuir para uma mudança positiva a estes níveis. Podemos ir até às unas a pé ou de bicicleta (ou mesmo de transportes públicos colectivos) e deixar o carro quieto. E podemos votar em quem planeie tomar medidas que mexam no status quo, que ousem fazer diferente e melhor.
A Quercus foi consultar os programas eleitorais e fez o levantamento das propostas na área da mobilidade das principais listas candidatas à Câmara Municipal de Lisboa e do Porto. O apanhado está aqui.
A Rosa Félix, Bernardino Aranda, Miguel Carvalho, Ricardo Sobral, activistas de há muito tempo pela mobilidade sustentável e em bicicleta fizeram um apanhado das propostas políticas de cada candidatura à Câmara Municipal de Lisboa. «Usando citações directas dos programas», compilaram tudo numa tabela comparativa cobrindo a habitação, o turismo, e a mobilidade, transportes e modos activos.