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Aprender a andar de bicicleta

Eu aprendi a andar de bicicleta… andando. 🙂 Ninguém me ensinou, nem sequer houve alguém a segurar-me no banco antes de eu conseguir equilibrar-me sozinha, pelo que me lembro. Antes tinha tido um triciclo, mas são skills muito diferentes. 😉 Comecei com rodinhas, mas não gostei e pedi logo para tirarem aquela “porcaria”. Depois caí logo na primeira curva (a 90º, a esquina do pequeno prédio onde vivia). Mas foi a última vez, até ver (dois cromossomas X significam frequentemente mais cautela). 😉

A maior parte das pessoas da minha idade e do meu “meio” têm uma história similar, mais ou menos rodinhas, mais ou menos pai-que-segura-no-banco.

Mas há algumas pessoas que nunca tiveram a oportunidade de aprender enquanto crianças, e depois o tempo disso passou (ou assim sentiram elas). As razões são várias, ou os pais não as deixavam andar na rua, ou nunca lhes deram uma bicicleta e a liberdade para tentar, ou viviam num contexto desfavorável por aquele ou outro motivo…

Algumas pessoas ficaram marcadas por algum incidente que as afastou definitivamente das bicicletas, uma queda, um acidente,… Ganharam medo.

Andar de bicicleta devia fazer parte da Carta Universal dos Direitos Humanos. 😉 E qualquer idade é boa para começar. E hoje em dia com a crescente macro-urbanização e motorização, as pessoas, e principalmente as crianças e os mais velhos, perderam o direito à rua, e com isso vem menos oportunidade para coisas como estar na rua e andar de bicicleta.

Há algumas empresas (e particulares) que dão aulas de iniciação a andar de bicicleta, numa vertente meramente lúdica ou mais com o desporto em mente, a um nível mais básico (aprender simplesmente a equilibrar-se e a controlar a bicicleta) – ex.: Núcleo Cicloturista de Alvalade (uma associação desportiva), Decathlon de Alfragide, Pedalnature na Azambuja (um particular, pela info de que disponho), Megasport em Loulé – ou um pouco mais avançado (com vista à prática de BTT ou a fazer expedições) – ex.: Cabra Montez, em Cascais. Decerto haverão mais espalhados por esse país fora mas que por um motivo ou outro não chegam aos media, nomeadamente à web.

Embora esta meia-dúzia de iniciativas já seja um bom sinal, o mercado apresenta ainda muitas lacunas nesta área. Afinal, a quem recorrer para aprender a conduzir uma bicicleta na estrada, a interagir com o tráfego e a fazer parte do trânsito? Já faz parte do politicamente correcto falar sobre e incentivar o uso da bicicleta como transporte, mas depois o mercado tarda em responder às necessidades que esses novos comportamentos criam (formação, serviços, infra-estruturas, produtos,…). De momento, a única forma de aprendermos a integrarmo-nos no trânsito é… experimentando e aprendendo sozinho, com os sucessos e com os erros, com os sustos e com os exemplos de terceiros, e recorrendo a materiais estrangeiros (livros, sites, recursos multimedia)… Um caminho sólido mas moroso e mais arriscado.

A um nível governamental ou nacional, não há um programa nacional de ensino de condução de bicicletas, como há – a diferentes níveis – em Inglaterra, no Canadá e nos EUA, por exemplo. Nesse aspecto, Espanha aqui ao lado também não está melhor que nós (mas em compensação está muito à frente em infrastruturas e serviços para ciclistas e por ciclistas…). No entanto, e atítulo de exemplo, o BACC já oferece há algum tempo cursos de bicicleta para adultos (agora com um site renovado 🙂 ).

As nossas escolas de condução ensinam (muito precariamente, como se pode deduzir observando as nossas estradas e as nossas cidades, e passando pela experiência de tirar a Carta…) o Código da Estrada e a condução de veículos: ligeiros (os automóveis), pesados (autocarros e camiões) e motos, dado que para conduzir estes veículos é exigida uma Carta de Condução que habilite a pessoa a fazê-lo. Depois há veículos para os quais basta ter uma Carta tipo B ou whatever, como os tractores agrícolas e afins.

A condução de bicicletas não requer Carta de Condução, e desde 1992 (se não estou em erro), que não é necessária a Licença de Trânsito de Velocípedes. Felizmente.

Não sei se continua a poder registar-se uma bicicleta na Câmara Municipal, mesmo embora já não seja obrigatório. Quanto à Carta de Condução, o Estado podia ter uma própria para ciclistas que pudesse ser conferida a quem quisesse fazer um curso específico para estes utilizadores da estrada – algo não obrigatório mas que oferecesse a formação e a certificação. Talvez fizesse sentido estar associada à Carta de Condução de Motociclos ou então ao Curso de Formação dado pela Prevenção Rodoviária Portuguesa aos miúdos de 14 e 15 anos para lhes conferir a Licença Especial de Condução de Ciclomotores (que caduca quando atingem os 16 anos, tendo nessa altura que se pedir a substituição por uma definitiva). Essa “Carta” devia ser oferecida a ciclistas a partir dos 9 ou 10 anos de idade, em níveis adequados a cada faixa etária. Assim como está, nada é obrigatório mas também não temos a quem recorrer para aprender e para certificar (e perguntam vocês para que raio alguém quereria a certificação em condução de bicicletas…; bom, logo que consiga iniciar aqui uma nova série de artigos temáticos que ando a planear, volto a este pormenor. 😉 ).

Esta desformalização da condução de bicicletas na via pública associada à ausência de uma política e de um programa de formação, contribuiu provavelmente para negligenciar este tipo de veículo e todos os cidadãos que optam por ele para se deslocar. A bicicleta é algo marginal, que pode e deve circular na estrada mas que tem regras específicas para ela (algumas estúpidas) e que a rebaixam (e ao seu utilizador) face aos outros utentes das vias, ao mesmo tempo que nada lhe é exigido nem oferecido. Porque é que é importante um miúdo fazer um curso para aprender a andar de “acelera” na estrada mas já não o é se for para andar numa bicicleta? Ambos deverão aprender a usar os seus veículos e a conduzir de uma forma segura para eles próprios e para com quem se cruza com eles…

Sou completamente contra a obrigatoriedade de uma Carta de Condução ou de uma Licença de Circulação, atenção. A intenção pode ser boa, mas no caso das bicicletas há que ter em conta o factor social, o contexto cultural. Mesmo com Cartas, exames, Licenças, seguros, etc, etc, toda a gente quer ter um carro ou uma mota, especialmente os miúdos. A bicicleta ainda não tem essa “alavanca” a promover o seu uso. E a sua burocratização e formalização só contribuiria para afastar mais pessoas desta opção de transporte, verificando-se, consequentemente, perdas (ou ausência de ganhos) a nível da saúde e segurança públicas gerais, além da qualidade ambiental das zonas urbanas e da disponibilidade de espaço público.

Actualmente, temos esforços por parte da Prevenção Rodoviária Portuguesa em campanhas de Segurança Rodoviária, que passam pela distribuição de brochuras informativas e pela organização de concursos. A PRP (e outra entidades sem fins lucrativos, como a APSI, por exemplo) recebe anualmente fundos do Ministério da Administração Interna, provenientes do Fundo de Garantia Automóvel, para desenvolver campanhas e actividades de prevenção e redução da sinistralidade rodoviária. Este ano o tema é “Reduzir a velocidade nas estradas portuguesas“.

No pré-escolar e no 1º Ciclo do Ensino Básico (até aos 9-10 anos), os concursos consistem no desenvolvimento de trabalhos académicos (expressão plástica e expressão dramática), e as brochuras focam o comportamento das crianças como utilizadores das vias do ponto de vista de peões e de passageiros em veículos, havendo também sugestões de actividades a desenvolver em ambiente simulado e na rua a observar o trânsito. Algo muito positivo: abordam os conceitos de carpooling e de pedibus. 🙂

No 2º Ciclo (10 e 11 anos) há uma Taça Escolar de âmbito nacional, com provas teóricas e práticas, em bicicleta. É avaliado o comportamento na estrada do ponto de vista de um ciclista (mas não parece ser dada alguma formação prática prévia). É distribuída uma brochura com as regras aplicáveis aos ciclistas ilustradas.

No 3º Ciclo e no Ensino Secundário voltam os concursos em termos de trabalhos académicos, que passam por actividades tendo em vista a melhoria da segurança rodoviária na área envolvente às escolas.

A PRP oferece também apoio técnico no estabelecimento de Escolas de Trânsito, bem como formação dos respectivos técnicos.

O objectivo destas escolas é desenvolver acções de educação para a segurança rodoviária, como, a título de exemplo, as da Associação de Cicloturismo Fidalbyke, no Barreiro. Citando a PRP:

(…)as Escolas de Trânsito destinam-se precisamente a proporcionar às crianças os conhecimentos e competências necessárias a uma adequada integração na circulação rodoviária, recorrendo para tal a intervenções de natureza teórica em interligação com acções pedagógicas a nível prático, seguindo, neste último caso, uma metodologia de simulação de situações de trânsito.

Este é um trabalho meritório. No entanto, o conceito é insatisfatório. As crianças aprendem a teoria e depois põem-na em prática num ambiente simulado, sem condições reais de tráfego e numa pista desenhada à escala delas. Os miúdos não são ensinados nem treinados a circular na estrada da vida real. Imaginem que se aplicava o mesmo sistema para ensinar as pessoas a conduzir um carro ou uma mota… Na minha opinião, estas escolinhas podem ser um excelente recurso para crianças mais pequenas e para os iniciados, mas numa óptica de preparação para uma formação posterior em condições reais, nunca em substituição desta.

Pelo que tenho conseguido apurar, na política da PRP a bicicleta é aposta apenas para os miúdos a frequentar o 5º e 6º anos de escolaridade… 🙁 Não parece haver estímulo para o desenvolvimento das competências nos anos subsequentes. E desconheço até que ponto estas acções visam efectivamente formar os ciclistas do presente, ou se são apenas uma tentativa de formar os condutores de automóveis ou motas do futuro

Paralelamente a tudo isto, é cada vez mais enfatizada a “necessidade de maior cuidado por parte dos peões e dos ciclistas”, em campanhas e lobbies pelo uso de capacete e de coletes reflectores a toda a hora… Não se forma para dar às pessoas as ferramentas de segurança activa, mas cria-se uma cultura de medo, perigo, insegurança que coloca o ónus da segurança sobre a vítima potencial mais provável, levando-a a tentar proteger-se dessa “ameaça” com “armas” meramente passivas…Um logro, no fundo. E perigoso, ainda por cima, a diversos níveis (noutro post, que este já vai demasiado longo)…

Para finalizar, há uns meses encontrei isto perdido nas minhas coisas antigas da escola, “a flash from the past“:

1992:

PRP1.jpg-000.jpg

1987:

PRP2-000.jpg

Reparem nas roupas e nas bikes, muito old school! 😉

Há umas duas semanas atrás, fui trabalhar para o CIUL à tarde e à saída reparei nuns panfletos, ficando assim a saber do Fórum Distrital de Segurança Rodoviária, promovido pelo Governo Civil de Lisboa e pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), a decorrer no próximo dia 28 de Maio, às 10h, no Fórum Lisboa (antigo Cinema Roma). A inscrição é gratuita (basta fazer a inscrição online), o programa está disponível no site.

A iniciativa, que conta com as presenças do governadora civil, Dalila Araújo, e do presidente da ANSR, Paulo Marques, tem como principal objectivo divulgar a Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária (ENSR) e recolher vários contributos para o documento final da mesma e sua posterior implementação.
(…)
O controlo de velocidade, a condução sob efeito do álcool e drogas, a formação, as condições do acesso ao título de condução e a avaliação dos condutores, a formação e educação para segurança do ambiente rodoviária, o socorro às vítimas, a auditoria das vias, a inspecção da sinalização e a fiscalização da segurança do parque automóvel, são alguns dos temas que estarão em foco e análise no fórum distrital.

APELO! Este evento é uma excelente oportunidade de confrontar os hot shots todos acerca das questões de direitos e deveres dos ciclistas (Código da Estrada), segurança rodoviária, campanhas de educação, etc. Algum voluntário interessado? 🙂 Eu vou tentar ir assistir a pelo menos uma ou duas palestras, mas nesse dia a Cenas a Pedal deverá estar ocupada num evento (more on that later), e ainda não tenho o dom da ubiquidade. 😛 Além disso, era bom ter um voluntário activista menos tímido. 😳

Este tema dos direitos dos ciclistas (e não só…) e da segurança rodoviária é algo que me tem vindo a interessar especialmente desde há algum tempo. A FAQ que preparei e publiquei em Dezembro do ano passado foi reflexo disso mesmo. No seguimento disso, e face à lacuna sobre a qual acabei de dissertar neste post, a evolução natural só podia ser uma: avançar e procurar fazer parte da solução… 😉

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Estão a prepará-la…

A única “revista de bicicletas” que temos em Portugal, a Bike Magazine, admitiu a sua política de apoio à obrigatoriedade do uso de capacete por ciclistas, numa resposta a uma carta de um leitor, na edição de Março de 2008:

(…) claro que somos completamente a favor da obrigatoriedade da utilização do capacete, e esta terá de certeza resultados práticos, principalmente na comunidade de ciclistas de estrada e dos utilizadores de ciclovias.

Resta saber que “resultados práticos” serão esses. Para o BTT (o público alvo da revista) reconhecem o maior valor da sensibilização:

(…) Quando falamos no BTT, a sensibilização poderá ter um papel ainda mais importante do que a legislação, porque este desporto pratica-se em locais onde a fiscalização é praticamente impossível. (…)

Posição da revista BIKEmagazine quanto à obrigatoriedade do uso de capacete por ciclistas

A Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI) também defende esta posição:

E: A APSI conseguiu que as cadeirinhas nos carros fossem obrigatórias, bem como o uso de capacete para crianças que viajem nas bicicletas dos adultos. Há mais exigências a curto e médio prazo?

SN: (…) Em carteira, temos a obrigatoriedade do uso de capacete para ciclistas. (…)

No documento “Child Safety Report Card 2007 – Portugal” apresentam como uma das «medidas necessárias»:

Aumentar a segurança dos ciclistas através da introdução e cumprimento da lei da obrigatoriedade de uso de capacete para todas as idades.

Mais à frente na secção de «avaliação do progresso» são apresentadas as medidas de «segurança dos ciclistas»:

report-card_pt_ciclistas.jpg

Quanto à Prevenção Rodoviária Nacional… Encontrei o Plano Nacional de Prevenção Rodoviária, de Março de 2003, do Ministério da Administração Interna. Para «maior segurança para os utentes dos veículos de 2 rodas», sugerem 3 tipos de medidas:

a) – Medidas Legislativas

a.3 – Promover o uso de capacete de protecção pelos utentes de veículos de duas rodas sem motor bem como a obrigatoriedade de colocação de reflectores nesse tipo de veículos.

b) – Medidas de formação/sensibilização

b.5 – Sensibilização para os benefícios da existência de seguro de responsabilidade civil para veículos de duas rodas sem motor.
b.6 – Organização de acções de sensibilização para os comportamentos mais adequados e/ou para o estabelecimento de boas relações entre os condutores de veículos de duas rodas e os automobilistas;
b.7 – Produção de materiais de apoio para jovens do 2o ciclo do ensino básico bem como para pais e professores com vista à educação rodoviária dos jovens como ciclistas;

c) – Medidas estruturais

c.3 – Criação de estruturas rodoviárias para veículos de duas rodas sem motor, tendo em conta aspectos como o lazer ou a sua utilização diária para pequenas deslocações (ex: casa-trabalho).

Resumindo: recomendar o uso de capacete, obrigar ao uso de reflectores nas bicicletas, divulgar as vantagens de ter um seguro de responsabilidade civil, organizar acções para fomentar o bom relacionamento entre ciclistas e motoristas, educar os jovens ciclistas (até ao 9º ano) através de panfletos e afins, construir ciclovias para lazer e commuting.

Serei só eu que vejo aqui um problema de fundo?…

IV.6.B – Capacete de protecção

IV.6.B.1. – Justificação
(…) No que respeita aos ciclistas, estudos indicam que em caso de acidente, a utilização de um capacete de protecção apropriado reduz a probabilidade de lesões na cabeça entre 45% e 85%, e que a probabilidade de morrer em consequência das lesões sofridas é cerca de 20 vezes menor.

IV.6.B.2. – Objectivos
(…) Não sendo um hábito a utilização dos capacetes de protecção por parte dos ciclistas, é objectivo principal promover a sua utilização, iniciando a sistematização do seu uso por parte das crianças, e estudando a possibilidade de o tornar obrigatório, a partir do momento em que, pelo menos 30% dos ciclistas já o utilizem.

IV.6.B.3. – Caracterização da situação actual
(…) Quanto aos capacetes para ciclistas, não existe nenhum normativo que obrigue ou que incite a sua utilização, já por si muito reduzida.

IV.6.B.4. – Medidas propostas
(…)
– Campanhas de sensibilização para o uso de capacete de protecção para ciclistas.

IV.6.C – Material retroreflector

IV.6.C.2. – Objectivos
– Conseguir a utilização regular de material retroreflector por parte de cerca de 50% dos peões, sempre que circulem à noite fora das localidades.
(…)
– Tornar obrigatória a retroreflectorização de velocípedes e conseguir a instalação efectiva do equipamento regulamentar em, pelo menos, 80% destes veículos.

IV.6.C.3. – Caracterização da situação actual
A legislação existente não estipula a obrigatoriedade do uso de dispositivos retroreflectores nos peões e ciclistas, pelo que o seu uso é quase nulo. A sensibilidade para a importância da utilização dos dispositivos retroreflectores é quase inexistente, e a disponibilização nos circuitos comerciais é igualmente muito fraca.

IV.6.C.4. – Medidas propostas
– Campanhas destinadas a promover a utilização de equipamentos retroreflectores por parte de peões e ciclistas.
– Alteração legislativa que torne obrigatória a retroreflectorização da bicicleta.
(…)
– Fiscalização da não utilização dos equipamentos retroreflectores tornados obrigatórios.
– Acções destinadas a promover a disponibilidade de materiais retroreflectores de qualidade nos circuitos comerciais e promoção da sua distribuição gratuita às crianças e aos idosos, nomeadamente aos que têm a necessidade de deslocações nocturnas.

Depois há outro documento, o do “PROGRAMA DE ACÇÕES 2003 / 2005“, anexo ao anterior. E este começa com a secção «EDUCAÇÃO / FORMAÇÃO», e indica os objectivos da «educação rodoviária de crianças e jovens»:

Privilegiar a abordagem de conteúdos relacionados com as temáticas “Velocidade”, “Peões”, “Cintos de segurança e Sistemas de retenção para crianças”, “Ver e ser visto” e “Capacetes para ciclistas” nas práticas educativas a desenvolver junto das crianças e jovens das várias fases etárias.

A educação dos ciclistas resumir-se-á ao uso de capacete?…

I.1.3.3. – Ciclistas

a) No 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico

Reconhecer os ciclistas como utentes vulneráveis;
Compreender a utilização do capacete como um factor que contribui para a redução dos traumatismos cranianos;
Reconhecer a influência da noite na segurança da circulação dos ciclistas;
Reconhecer a necessidade de utilização de material retroreflector.

Foco nas medidas de segurança passivas: capacete, luzes e reflectores; not a word on real education!… E é só até aos miúdos do 9º ano, enquanto que as outras acções englobam os alunos até ao 12º…

Só as motas têm previsto acções de formação em condução, as bicicletas não são incluídas. Só as referem para falar dos capacetes.

Promover a prática de condução defensiva e de aperfeiçoamento de condução para os condutores de motociclos/ciclomotores (2 rodas é preciso duas vezes mais competência).

Cada vez é mais óbvio para mim que precisamos de agitar as águas nesta área… Aliás, acho mesmo que se devia destapar o ralo, deixar sair esta água e começar a encher com outra, fresca e limpa. 😛

E agora vocês perguntam: “mas porquê”? E eu gostava de vos responder, mas esse post ainda vai ter que esperar, pois o dia só tem 24 horas e o que eu tenho para fazer parece precisar sempre de 48… 😛 Sorry! Por exemplo, este post já estava semi-escrito há umas 4 semanas e só agora me consegui obrigar a terminá-lo, embora tenha abdicado da justificação da minha opinião e dumas outras coisinhas mais, por falta de tempo… 🙁

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Versão 0.2 beta d’“O Código da Estrada e os Velocípedes: Perguntas Frequentes”

Depois da versão inaugural, publico agora a versão 0.2 beta d’ “O Código da Estrada e os Velocípedes: Perguntas Frequentes”, onde introduzi algumas correcções e melhorias suscitadas pelo feedback (que muito agradeço) do Mário Alves, do Frederico Bruno e do Rui Caldeira, à versão 0.1 beta. Ainda é um “work in progress”.

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“O Código da Estrada e os Velocípedes: Perguntas Frequentes”

Eu tenho a carta de condução tipo B e conduzo automóveis há uns 7 anos. No entanto, ao circular de bicicleta, sou assaltada por imensas dúvidas do que posso ou não fazer e como se aplicam a mim as regras do Código da Estrada. Por isso, e por ter reparado que muita gente anda com as mesmas dúvidas e muitas vezes com assunções erradas, resolvi contribuir para ajudar a tornar mais “digerível” o Código da Estrada, para quem o analisa da perspectiva de um velocípede / ciclista.

Assim, analisei o Código da Estrada actual, o Regulamento da Sinalização de Trânsito, algumas Portarias (como a que regulamenta os dispositivos de iluminação, por exemplo), e redigi um documento construído estilo FAQ (“Frequentely Asked Questions”): “O Código da Estrada e os faq2_ce_ciclistas_v01betapdf.pngVelocípedes: Perguntas Frequentes” (ficheiro em formato pdf, com 856.6 kb).

Esta versão é a 0.1 beta e espero poder alterá-la e lançar uma versão mais “definitiva”, ou estável, o mais depressa possível, faltando para isso obter resposta às questões para as quais não consegui chegar a uma conclusão satisfatória, ou inequívoca, e outras sobre as quais simplesmente não consegui encontrar, ou “ler”, informação. Para tal, agradeço todas as sugestões de melhoria ou correcção a este documento, que podem ser enviadas para o meu mail: anapereira @ cenasapedal . com. Obrigada. 🙂

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“Um Marginal na Marginal”

O Tiago Andrade Santos é um arquitecto que usa a bicicleta diariamente como meio de transporte, para se deslocar entre casa e o seu local de trabalho, em Oeiras.

Dadas as recentes proibições por parte das Câmaras Municipais de Oeiras e Cascais de circular em bicicleta nos paredões à beira-mar, o Tiago resolveu redigir um documento intitulado “Um Marginal na Marginal – Proposta para melhorias no concelho” onde, em 10 páginas, aponta os principais problemas de mobilidade em bicicleta e sugere medidas para ajudar a resolvê-los. E tem o cuidado de documentar as situações com fotografias ilustrativas. Criou ainda uma série de slogans e imagens de divulgação e provocação, para alertar para as questões abordadas.

O principal problema apontado prende-se com o ataque e a negligência das entidades no poder para com o uso da bicicleta, quer como transporte quer para lazer. A bicicleta fica de fora no planeamento das infrastruturas, e quando há conflitos com outros utilizadores das vias (carros ou peões) é ela que é banida. As infracções dos ciclistas (neste caso, a circulação nos paredões) são prontamente identificadas e punidas, enquanto que as de automobilistas (que estacionam os carros onde calha – passeios, ciclovias, passadeiras, etc) e as de peões (que circulam nas ciclovias e não nos passeios ao lado – ex. de Cascais) são ignoradas ou pelo menos não são fiscalizadas ao nível que deviam, são encaradas como “normais” e toleradas culturalmente. Além disso, no caso dos ciclistas as infracções de uma minoria servem de desculpa para banir todos os outros da estrada, enquanto que ninguém pensaria fazer isso relativamente aos automobilistas…

Apesar de aparentemente o autor do documento defender a segregação entre bicicletas e restante tráfego (embora possa assumir que seja apenas relativamente à Marginal e/ou relativamente a uma utilização num local de contexto paisagístico privilegiado, como o é a frente ribeirinha destes concelhos, principalmente com o objectivo do lazer e desporto ligeiro), o documento levanta questões pertinentes e apresenta soluções perfeitamente plausíveis, pelo que o recomendamos e apoiamos.

Foi justamente para procurar apoio de outras pessoas interessadas na resolução destes problemas que o Tiago Andrade Santos contactou a FPCUB para que esta ajudasse na divulgação e agisse como intermediário para reunir pessoas interessadas em apoiar esta proposta.